
Além de liderar o ranking dos países com maior número de assassinatos registrados de travestis e transsexuais, o Brasil possui um mercado de trabalho ainda pouco inclusivo e tolerante em termos de diversidade sexual. Estatísticas apontam que, no país, 33% das empresas evitam a contratação de lésbicas, gays, travestis e transsexuais (LGBTs). Outros dados dão conta de que 66% dos trabalhadores já testemunharam cenas de discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero no ambiente de trabalho. Os levantamentos são do Grupo Gay da Bahia (GGB), da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e da Agenda Bahia do Trabalho Decente.
Na contramão do cenário, pesquisadores, organizações não-governamentais e instituições públicas e privadas têm fomentado o avanço no debate sobre a promoção do respeito à sexualidade no trabalho. Parte dessas contribuições será apresentada no Colóquio em Diversidade Sexual, Organizações e Trabalho, que ocorre na UnB na próxima quinta-feira (30). O evento será sediado no auditório da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Gestão de Políticas Públicas (Face), no campus Darcy Ribeiro, e encerra agenda comemorativa da Universidade pelo Dia Internacional de Luta contra a LGBTfobia, 17 de maio.
Em mesas-redondas, especialistas trarão reflexões sobre a diversidade sexual no atual contexto do país e abordarão perspectivas e desafios para inclusão da comunidade LGBT nas organizações. Valorizar a pluralidade de enfoques sobre os assuntos é também proposta do colóquio. Para o coordenador do evento e professor da Face, Marcus Siqueira, a discussão é fundamental e converge com outras pautas da atualidade, como a criminalização da LGBTfobia, aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em julgamento na última semana.
Muito além da tolerância e da inclusão, o docente entende que é necessário priorizar a valorização da diferença e o reconhecimento do outro em todos os espaços. “A discussão da diversidade sexual em nível organizacional não pode estar separada da crítica organizacional, da prevenção e do combate a qualquer LGBTfobia em âmbito social”, defende.
Ele acredita que, apesar de o ambiente corporativo ainda ser pouco inclusivo, essa realidade tem mudado com o maior engajamento do empresariado internacional na causa LGBT. “Atualmente, grandes empresas desenvolvem e empregam políticas de diversidade e orientação sexual. Isso, obviamente, acaba acarretando em maior vontade política, nos contextos organizacionais, de trazer isso para o Brasil”, alega Siqueira, lembrando que essas políticas também favorecem o melhor desempenho e produtividade dos trabalhadores.
AÇÕES – Promovido em parceria com a Diretoria da Diversidade (DIV/DAC) e o Decanato de Extensão (DEX), o colóquio inaugura as atividades do Centro de Cultura e Estudos LGBT no Ambiente de Trabalho. Criada em abril deste ano, a unidade vinculada à Face é pioneira no país na aproximação da questão da diversidade sexual aos contextos organizacionais.

Ampliar o desenvolvimento de pesquisas já existentes na temática é uma das propostas. Questões como a diversidade sexual em organizações, mas também em outros âmbitos, como as universidades e o esporte, têm impulsionado estudos já em andamento.
Além do saber científico, o centro busca promover a cultura LGBT, com o fomento a ações de inclusão e a proposição de políticas organizacionais focadas na valorização das diferenças e combate à discriminação.
Formado por pesquisadores da UnB, a unidade tem colaboração de outras universidades federais, como as de Minas Gerais (UFMG), de Uberlândia (UFU) e do Espírito Santo (UFES). “A universidade tem que atuar melhorando as relações humanas nos diversos contextos sociais. Queremos incluir a educação e cultura no processo de mudança da mentalidade e minimização dos preconceitos”, define Marcus Siqueira. A participação é livre.